Chico Joel, o homem que mais usou a voz, morreu sem ela. Após a partida de Chico a feirinha da estação nunca mais foi a mesma


Este aí da foto é o famoso Chico Joel, nome artístico no rádio: F. Lunguinho, o chamava apenas de Chico. Ele não está mais entre nós, partiu desta terra deixando muita saudade e uma legião de fãs e alunos, aprendizes, assim como eu. Sim, para quem não sabia, fui lançado no rádio por Lunguinho. O abnegado abria as portas da Rádio Jornal AM de Sousa pra mim, lá por volta de 2006. Com o consagrado Chico Joel comecei fazendo esporte, ele me lançou no rádio e já se passaram 15 anos.

Chico Joel era daqueles radialistas raiz. Colocava as mãos na massa. Chico tinha um serviço de alto falante no bairro da estação, onde aproveitava para “vender seu peixe”, na feirinha da estação, era de um barraquinho improvisado que ele fazia locução. Quem não lembra: “Olha a galinha, olha o galeto, olha o galeto, olha a galinha”, era apenas um dos jargões utilizados por Chico. Recordo muito bem de uma transmissão que fui fazer em Aparecida – PB com Chico, naquela oportunidade eu era o repórter de campo daquela transmissão, eu juntamente com o amigo Ademir Bezerra. Chico narrou todo o jogo de cima de uma carroceria de uma caminhoneta. Detalhe: antes da partida, ele que montou toda a estrutura de transmissão, emendou o fio a cerca de arame farpado, puxou fio daqui e dalí, pegou um telefone desses artigões e jogou o sinal para a Rádio Jornal AM 950. Uma goleada de transmissão.

Sabe como Chico me descobriu? Foi por ciúmes, muito ciúmes. Francisco das Chagas havia me chamado para fazer locução no serviço de alto falantes Rádio Via Estação, FM via cabo. Chico me ouvia e em um determinado momento surgiu em minha casa me lançado uma proposta, empolgado e sedento por uma rádio profissional acatei a ideia, mesmo sem ganhar nada. Chico havia me roubado de Das Chagas.

Chico Joel coleciona muitas pérolas, o meu amigo Advogado Cláudio Diniz se acabava de rir com alguns trechos de transmissões de Chico, ele tinha um MP3 com todas essas resenhas. Certo dia, quando saí dos estúdios da Jornal, estava Cláudio com o porta malas do carro dele aberto e no som ecoava as pérolas de F. Lunguinho. Era uma verdadeira resenha. Em certa transmissão Chico foi narrar Brasil x Argentina, sem saber o nome dos jogadores estrangeiros, Chico apenas dizia: “Lá vai, lá vai, lá vai, lá vem, lá vem, lá vem” (Risadas), em outra transmissão ele se comunicava com Ademir Bezerra (Repórter de campo) e Lunguinho, Chico (Narrador): “Me confirme Ademir, Tinga, com T ou com D, Ademir confirmava Tinga, Lunguinho, com T, Lunguinho dizia, beleza Ademir, Dunga”. Chico era cultura. Uma lenda do rádio.

Por ironia do destino Chico teve um câncer que fez com que ele perdesse o seu bem mais precioso, a voz. Durante a doença nunca se deixou abater, aliás, quando falava com ele, ele sorria, mas com certeza por dentro chorava, pois não contava com seu bem mais precioso. Chico morreu, mas se eternizou no rádio, nas suas gravações.

Hoje, a ex companheira dele, amiga da minha saudosa mãe, que chamo de “Quinha”, chegou na minha casa e começou a falar de Chico, foi uma conversa muito boa, uma volta ao começo. Pedi uma foto de Chico e nasceu esta crônica, apenas para não deixar morrer as lembranças e memórias do decano do rádio sousense.

 

 

 

 


 

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