Papai, uma lição de vida! Do chevette preto que virou branco até os dias atuais. Por seu filho, Ricardo Martins.


Esses cabelos brancos carregam uma história de vida brilhante e inspiradora.

Este é papai, Damião Martins da Silva, 53 anos, filho de Alzenir Nazaré da Silva e Cícero Martins da Silva, irmão de Iraci Martins da Silva (Cidinha). Sabe aquele filho e irmão que se transformou em pai de todos? Assim é o meu PAI.

Papai é um homem muito simples, sem vaidade, sem orgulho, até poderia ter, mas não tem, escolheu a humildade, a pureza de coração, a dignidade e a integridade. Sabe o maior exemplo da sua vida? É o meu pai.

Papai é aquela pessoa que partiu do nada, sem oportunidades, pouco ou quase nenhum apoio, teve que lutar contra as adversidades da vida desde muito novo, teve todos os mecanismos para ser o pior ser humano do mundo, para dar errado na vida, para seguir o caminho do mal, mas MEU PAI, preferiu o bem.

Aos oito anos de idade com dificuldades até mesmo para colocar o pão de cada dia na mesa, Papai teve que suar a camisa. Partia todas as manhãs ainda de madrugada para a cidade de Pombal, distante cerca de 60 km de Sousa. Na saída de Sousa ele enfrentava dificuldades, criança, sem forças, apoiava as mercadorias que comercializava na parede e subia até ficar na altura da cabeça para levar até a condução, não tinha sequer uma bicicleta para andar, aliás, era o seu grande sonho, que com muito, mas muito esforço, conseguiu realizar e quando veio a tão sonhada moto, aí meu amigo, foi o ápice.

Em uma motinha simples, comprada com muito esforço, Papai conseguiu progredir mais ainda no crediário São Francisco (Comercio que ele mantém até hoje, ao longo de mais de 40 anos). Após a motinha Honda veio o possante chevette que era preto e que ficou branco, isso mesmo, depois de capotar o chevette preto, Papai decidiu pintar de branco para dar sorte (Risadas), pois vozinha havia dito que o chevette preto dava “azar”. Os tempos do chevette foram tempos de glória, como dizem popularmente “O tempo das vacas gordas”. O crediário começava alí a prosperar.

 Papai já deve ter o título de Doutor do crediário. Depois de Pombal começou a trabalhar em Cajazeiras, um laço de história com a cidade. Por lá ele é conhecido como Martins, “Martin”, “Marquinhos”, estas últimas definições dos clientes e amigos, que aliás, são muitos.

Nas idas e vindas para Cajazeiras Papai já capotou dois carros, por honra e glória do senhor Jesus, nenhum corte na mão aconteceu. É homem firme na fé. Temente a Deus, todos os dias, criteriosamente escuta o evangelho do dia, reza na missa aos domingos, agradece ao dormir e também ao acordar. Deus anda lado a lado com ele. Daí vem a proteção e explicação para tudo o que ele toca virar ouro.

Papai é um matemático nato, domina a disciplina como ninguém, seria sem dúvidas, um engenheiro de sucesso ou um excelente professor de matemática, mas, por falta de oportunidades não se dedicou as áreas. Ele pode até ter tido falta de oportunidade, mas se tem uma característica que o acompanha até hoje é a inteligência, quando aluno do fundamental 1 e 2 e ensino médio, na época de escola, ensinava aos amigos, era admirado pelos professores, ganhou até uma bolsa de Antônio Mariz na época para estudar de graça na escola Papa Paulo Sexto, a escola de “Seu Macedo”, por ser o melhor aluno da rede pública. Naquele tempo a Escola Papa Paulo Sexto era particular e muito requisitada pela sociedade sousense. Menino prodígio, cheio de talento, Papai fez por merecer e na escola dava show, em casa, Vozinha, a mãe dele dizia quando o via estudando muito: “Esse menino vai ficar doido de tanto estudar”.

E o talento não ficou apenas no estudo, Papai é músico de profissão. Entrou na banda Treze de Maio, banda de música da Prefeitura Municipal de Sousa, aos 13 anos de idade. Se dedicou, aprofundou as notas musicais e com um trompete na mão ele dá um verdadeiro show. São 40 anos dedicados a música. Hoje está aposentado, mas não esquece os momentos vividos, com orgulho ele lembra de cada tocata e alvoras, que foram muitas. O trompete dele está guardado sob quatro chaves, com muito cuidado e carinho.

Na vida ele carrega muitas histórias curiosas que quando conta, arranca grandes gargalhadas da gente. Uma delas é que quando criança vozinha pediu para que ele fosse fazer uma aposta no jogo do bicho para ela e a determinação da minha avó, que era muito rígida, foi a seguinte: “Jogue dois reais no galo”, atendendo ao pedido Papai foi fazer a aposta só que se confundiu e jogou dois reais no gato, quando chegou em casa e falou, a minha avó ficou furiosa e disse: “Se sair o galo você vai ‘pra peia’, menino”, não é que o resultado saiu e advinha o que foi o bicho?! Isso mesmo, gato (Risadas...). Papai era só felicidade, livrou-se da “peia” e ganhou pontos com a mãe.

Papai crescia e quando se tornava rapaz conheceu mãe, um início difícil, pois mãe, menina pobre, que havia perdido a mãe ainda muito cedo, pouco sabia sobre a vida, Papai carregou esta função de ensiná-la. E foi a combinação perfeita. Sabe o ditado: “Por trás de um grande homem existe uma grande mulher?” Foi isso. Mãe cresceu e edificou com Papai, Papai cresceu e edificou com mãe. Uma história de amor linda, cheia de cumplicidade, harmonia e parceria, relação que durou mais de 30 anos, recentemente a vida os separou fisicamente com a partida de mãe para o céu, mas o amor? Ah... este foi e será eterno. Amor além vida!

Papai continua escrevendo sua história, hoje com estabilidade e tranquilidade se orgulha quando diz que tem duas filhas cursando medicina, prestes a concluir a graduação e um filho jornalista formado, que já foi repórter e apresentador de televisão e que agora também está cursando Direito. E a família continua crescendo, os olhos brilham quando ele fala no primeiro neto que está para nascer, o nosso Arthurzinho, o rei Arthur, que vem para nos dar alegria e preencher a lacuna e o buraco deixado com a partida de mãe, que lá do céu também está muito feliz!

Para encerar esta crônica de domingo trago um trecho da canção Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo, de Roberto Carlos:

“Esses seus cabelos brancos, bonitos, esse olhar cansado, profundo

Me dizendo coisas, num grito, me ensinando tanto do mundo...

E esses passos lentos, de agora, caminhando sempre comigo,

Já correram tanto na vida,

Meu querido, meu velho, meu amigo

Sua vida cheia de histórias e essas rugas marcadas pelo tempo,

Lembranças de antigas vitórias ou lágrimas choradas, ao vento...

Sua voz macia me acalma e me diz muito mais do que eu digo

Me calando fundo na alma

Meu querido, meu velho, meu amigo”.

 


 

 

Comentários

  1. Que lindo texto, Ricardinho! Tô aqui toda derretida e chorosa! Papai é uma das pessoas que mais admiro nesse mundo! Nosso ponto de apoio em tudo, sempre!

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  2. Nossa! Que lindo ! Muito emocionante!Deus os abençoe sempre mais!!

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